11 de março de 2009

Concurso de Poesia




O nosso Concurso de Poesia aí está, em mais uma edição aberta a toda a comunidade escolar. O prazo de entrega dos trabalhos termina já no próximo dia 20 de Março, por isso toca a pôr o coração nas mãos (wear in your sleeves, whatever works for you). Cá ficamos à espera dos resultados!


Concurso de slogans


Está a decorrer o nosso concurso de slogans. Será que vai surgir algum capaz de ombrear com o famoso "Há mar e mar, há ir e voltar"? Veremos...

Texto colectivo do 9ºG

Este ano (oh felicidade!), várias turmas desataram a criar estórias colectivas. Publicamos hoje a primeira do que sabemos ser um manancial de criatividade que contraria o tal paradigma de que "os jovens não gostam de escrever". Vamos então lê-la!



HISTÓRIA COLECTIVA 9ºG

Título: A minha melhor amiga


Chamo-me Mariana. Tenho 16 anos e saí de casa para ter a minha independência.
Hoje, à luz do que já aprendi, considero que foi uma decisão incorrecta. Fui como um pássaro que voou antes do tempo. Deixei cedo demais a família, a escola e os amigos.


Começavam os saldos. As pessoas aproveitavam as oportunidades que as lojas ofereciam para poupar algum dinheiro. Grupos de jovens munidos de toalhas coloridas e de Havaianas a condizer, caminhavam em direcção à praia.
Respirei fundo. Senti um alívio imenso, desta vez era eu que decidia o que fazer da minha vida!
Também tinha de zelar pela minha sobrevivência…
Restavam-me trinta euros da mesada que a minha mãe me dava. Chegariam para três dias. Sentia-me em apuros. Eram dezasseis horas e precisava de procurar onde passar a noite.
Telefonei para a minha amiga Aurora, mas não estava disponível. Estava a passar uns dias em Santarém na casa dos tios.
As horas voavam. Entrei num café para consultar os anúncios do jornal. Tossiquei com o fumo que circulava; ignoravam o aviso”proibido fumar”.
Pela primeira vez, comecei a sentir-me só. Eu, comigo própria…
Voltei a olhar para as páginas do jornal com alguma esperança. Todos os empregos pediam altas qualificações. Infelizmente eu não acabara o 9º ano!
Transtornada pela desilusão, saí com as lágrimas nos olhos. Precisava urgentemente de arranjar um sítio para dormir, mas tinha medo de gastar o pouco que me restava e depois não conseguir comprar alimentos.
Anoitecera sem eu dar por isso. A noite estava calma, quente e húmida. Certamente haveria nas imediações um jardim público com um banco , onde pudesse adormecer sem sobressaltos…
Acerquei-me do parque do Bonfim. Um banco de ripas castanhas perto de uma moita exuberante esperava por mim.
Deitei-me com os olhos abertos. Olhei as estrelas e lembrei -me dos que deixara: fazia-me falta o abraço do Diogo, o beijinho da Mafalda, os ralhetes da minha mãe e a voz grossa do meu padrasto. Todos desfilaram diante de mim…



Ouvi passos pesados na minha direcção. Dois vultos ameaçadores aproximaram -se. Percebi serem dois homens corpulentos, de aspecto suspeito. Levantei-me assustada e, apressadamente, fugi. Não sabia para onde…só sabia que tinha de correr.
Felizmente não demorei a encontrar uma porta aberta. Era a porta de um edifício com cerca de duas décadas, ainda fruto das boas construções da cidade. Entrei, fechei a porta e, sem forças, deitei -me nas escadas. Acabei por adormecer.


Estranhamente alguém me tocou no ombro. Era um homem alto, de ar simpático e com um sorriso rasgado. Olhava para mim com curiosidade:
-Bom dia menina, não me diga que passou aqui a noite!...
- Por acaso até passei. Ontem saí com amigos, estava um pouco embriagada e nem reparei que não tinha a chave de casa.
-Mas…mora sozinha?
-Vivo com os meus pais que não estão em casa de momento. Foram ao norte visitar uns parentes. -menti.
Após uma longa conversa, convidou -me a entrar e ofereceu-me hospitaleiramente a sua casa “pelo tempo necessário”…
Demorei uns dias a entender tanta simpatia à minha volta. Cheguei a temer que quisesse reter-me em sua casa para depois avisar a polícia.
Mas o tempo passava…começava mesmo a compará-lo a um pai. Alimentava-me, dava-me abrigo e ainda me perguntava se precisava de alguma coisa, quando saía. Contei - lhe a verdade. Pareceu-me que já tinha adivinhado.


Um dia o senhor Júlio deixou cair a máscara.
- Mariana, ainda não consegui pagar todas as contas desta casa. Acho justo que comeces a ajudar nas despesas.
- Mas como poderei trabalhar, se a polícia me procura e nem sequer tenho o 9º ano? - perguntei algo surpreendida.
-Pois bem, arranjei uma solução para o teu caso. Uns amigos meus são proprietários do bar “Ocean Club” e precisam de uma bailarina para animar o ambiente. Tu tens ar de mais velha e terás disfarces à tua disposição. Ninguém te reconhecerá. - afirmou com um sorriso cínico.
Atrapalhada, retorqui:
-Mas nem sequer sei dançar!!...
Assumindo um ar sério, respondeu:
-Não precisas. Terás aulas particulares de dança com uma bailarina profissional. Está tudo previsto. Amanhã estarás pronta às 10 horas. Virei buscar-te, mas colocarás uma peruca ruiva para não seres reconhecida.
Não te esqueças do teu estatuto de desaparecida!
Concordei sem suspeitar do que me esperava…



O bar era enorme com um palco circular e um varão no meio.
Tinha muitos varandins em toda a volta do estabelecimento. Havia paredes avermelhadas com luzes veladas e cabines com cortinas escarlates.
A sala estava semeada de mesas e cadeiras para dezenas de clientes.
Nem queria acreditar no que me estava a acontecer!
Uma rapariga loura, com um sorriso rasgado, dirigiu-se a mim:
-Olá, sou a Thays, sê bem -vinda a esta casa. Sou eu que te vou orientar durante alguns dias. Sou considerada a melhor bailarina do grupo. A partir de hoje a tua vida vai mudar. Vamos começar?
- Bem…não sei se…não era bem isto que esperava…-balbuciei.
-Sabes que aqui tens oportunidade de ganhar muito dinheiro e, para além disso, não é um trabalho que exija uma grande responsabilidade. A Arte de dançar é um modo de vida como qualquer outro!
Reconsiderei. Afinal não custava nada tentar. Assim, não tinha de prestar contas ao senhor Júlio. Dava-lhe uma mensalidade que saldasse as minhas dívidas e o resto seria só meu.

As noites sucederam-se rapidamente. No início era a vergonha, o mal-estar, o incómodo de me ver despida diante de um público que se repetia noite após noite. Depois da desinibição veio a tristeza, a solidão espelhada no rosto. Já não sabia sorrir. Tudo era forçado. Não me sentia bem comigo própria.
Era um animal ferido, rodeado de predadores.



Depressa fui obrigada a prestar “outros serviços” sob pena de represálias e até, da minha própria morte.
Recusei as primeiras vezes e fui violentamente espancada. Foram as minhas colegas de infortúnio que ajudaram a sarar as minhas feridas. Fiquei irreconhecível! Por dentro a minha alma também sangrava!...
Alguns meses passaram e a noite testemunhava o meu sofrimento, as lágrimas caíam na almofada ensopando os meus sonhos.
Não me reconhecia…


Manhã de Dezembro, da minha janela a cidade movimenta-se. Rostos pálidos e congestionados do frio cruzam-se indiferentes.
O Natal aproxima-se. Natal é família e, no meu caso, saudades, muitas saudades.
Acordei febril. Sentia-me estranha. Dores abdominais começaram a incomodar - me. Levantei - me e reparei que os meus lençóis estavam manchados de sangue. Um sangue fétido e espesso. Estava doente e fraca. Algo se passava com os meus genitais. As dores intensificavam -se e já não conseguia urinar. Ardia fortemente. Tinha de fazer qualquer coisa…para ir ao médico transformar-me-ia noutra pessoa. Talvez na tal ruiva de cabelos ondulados e uns óculos grandes e muito escuros. A polícia não me identificaria. Seria muito diferente da fotografia que os jornais apresentavam.
Agarrei no telefone e marquei uma consulta para um médico ginecologista conhecido na cidade. Ficou marcada para a manhã seguinte.


Entrei no consultório. Olhei à minha volta e achei o ambiente pesado. Um cheiro ácido, a remédio, pairava no ar. Seis pessoas sentadas em cadeiras desconfortáveis esperavam pela sua vez. Confirmei com a recepcionista a hora da minha consulta. Ainda tinha de esperar algum tempo. O médico tinha chegado há poucos minutos e estava a atender a primeira doente.
Por fim, entrei. Fui recebida com alguma distância. Relatei as minhas queixas. Vesti uma bata branca e deitei -me numa marquesa com uns apoios para suspender as pernas. Estava muito pouco à vontade, mas o médico começou a falar - me de forma mais amigável, talvez para me descontrair.
-Costuma ter febre? - inquiriu com uma ruga de preocupação na testa.
-Às vezes sinto - me febril, mas não ligo. - respondi.
Choveram mais perguntas às quais fui respondendo, já preocupada.
Finalmente, o médico fez o diagnóstico:
- Tem uma doença inflamatória pélvica, mas com uma certa gravidade; terá de fazer outro tipo de exames para sabermos até que ponto o seu aparelho reprodutor ficou afectado.

Na semana seguinte, foram feitos os exames requeridos pelo ginecologista.
A triste notícia veio registada no relatório médico que abri com curiosidade e desespero: o estado lamentável dos meus órgãos não me permitiria nunca ser mãe!...
A minha intimidade com as companheiras de trabalho era nula.
Não tinha amigas com quem pudesse desabafar. Não partilharia com ninguém essa dor, esse segredo. Jamais iria sentir um ser humano a crescer dentro de mim, o milagre da vida!
Não veria um sorriso ou um olhar igual ao meu. Não me perpetuaria neste mundo. Viver, para quê?
O planeta nunca contaria com a minha dádiva…


Chorei longamente a minha dor. A fuga só me trouxera problemas, sofrimento.
Quis ser independente, livre de obrigações, sem ninguém que se intrometesse nas minhas decisões…Que engano!
Fugi ainda das agressões com que o meu padrasto nos presenteava quase todos os dias, o seu alcoolismo era o culpado. Pobre família! Virei -lhes as costas e deixei -os entregues à violência de um doente sem consciência da destruição que provocava. Fui cobarde. Coitado do Diogo que teria de chorar sozinho, sem a irmã mais velha para o confortar! Que saudades de casa!
Que saudades do sorriso da minha mãe, que a todo o momento nos pedia para termos paciência! …no fundo sabíamos que o nosso padrasto era um bom homem, um ser humano especial, que tudo fazia para nos dar conforto em casa. Imaginava a preocupação de todos…em vez de ficar em casa, ajudando a solucionar o problema, fugi, fugi, fugi!...
Para quê? Para me aniquilar a mim própria?


Aquele era o grande dia.
Depois de muito pensar, decidi voltar para o seio da família.
Era domingo. As ruas estavam mais desertas. Em minha casa costumavam ficar um pouco mais na cama.
E se eu os surpreendesse? Tocaria à campainha como fazia habitualmente: dois toques breves.
Assim fiz. Ouviu-se a voz ensonada e sumida do meu irmão:
-Quem é?
-Sou a Mariana - respondi, tremendo as palavras.
A porta abriu - se. Um sorriso largo caiu sobre mim e um abraço forte não se fez esperar!
- Mãe, mãe, a Mariana voltou!!! - gritava o Diogo emocionado.
Todos vieram ver-me. Chorámos juntos e enlaçados. Fizeram-me muitas perguntas ao mesmo tempo, mas só consegui responder a poucas. Não me forçaram a dizer mais nada. Só contei o que quis. Faltava -me a coragem.
Prometi revelar-lhes as minhas vivências mais importantes através da escrita. Ela tornaria tudo mais fácil: a compreensão dos meus erros, do meu arrependimento, do meu sofrimento. A escrita diria tudo o que eu não era capaz, narraria a vertigem daqueles meses em que a vida valeu anos.
A escrita foi a minha primeira confidente. A minha melhor amiga.
Aqui estamos nós.






Trabalho realizado por:
Nº1-Catarina Justo
Nº2-Cátia Ribeiro
Nº4-Filipa Rabaço
Nº5- Ivan Silva
Nº6-João Cruz
Nº7-Júlio Mondim
Nº8- Miguel Costa
Nº9- Miguel Manuel
Nº10-Rita Palma
Nº 11-Rodrigo Ferreira